sábado, 13 de setembro de 2008

Círculo Holístico Arca da Montanha Azul


Círculo Holístico Arca da Montanha Azul

Para uma Transreligiosidade sem fronteiras. (Uma nova tecnologia de Trabalho com Plantas Sagradas)

“Os enteógenos são uma nova fronteira, única em nossa exploração do universo.” Richard Yensen


A Arca da Montanha Azul é um grupo sediado no Rio de Janeiro, em Laranjeiras, e fundado em 1997. Faz uso do sagrado chá Ayahuasca, conforme estabelecido nas determinações do CONAD.

O uso religioso do ayahuasca no Brasil começou a ser sistematizado no Brasil a partir da década de 1930, por Raimundo Irineu Serra, que fundou a linha do Santo Daime. Posteriormente surgiram outras linhas tradicionais, como a Barquinha e a União do Vegetal. E numa terceira fase estão surgindo grupos independentes, com linhas diferentes das originais, ou mescladas. A Arca é um desses grupos.


Na visão da Arca, um dos principais alimentos para a crise existencial, perceptual, ética e religiosa que acontece no mundo de hoje decorre da Babel espiritual e intelectual em que se encontra o homem moderno. Se o objetivo universal é um mundo melhor por que não cingir uma cruzada a favor da Paz sem fronteiras? Imagine a força que teriam os religiosos do mundo se dessem as mãos em torno das questões que, em verdade, são universais e as mesmas para todos.


"Ora se digo buscar a paz, mas falo mal do caminho espiritual do meu próximo, considerando-o equivocado, “primitivo”, “rival” ou “do demônio”, etc., na prática não estou trabalhando pela Paz mas pela desunião, e fortaleço o fantasma da injustiça e desigualdade entre os Filhos de Deus. Assim se trabalha pela competição, destruição e pela guerra." Philippe Bandeira de Melo


A Arca procura auxiliar os membros a falarem diversas “línguas” a fim de que, por amor e na luta pela paz e o entendimento, possam se comunicar e se entrosar com irmãos de outras tradições e credos buscando irmanar-se com eles.

As Novas Fronteiras da Psicologia e a Promoção da Paz Mundial



As Novas Fronteiras da Psicologia e a Promoção da Paz Mundial

Philippe Bandeira de Mello

“O que uma geração considera como o cume do saber é amiúde considerado como absurdo pela geração seguinte, e o que em um século passa por superstição, pode formar a base da ciência no século vindouro.”

Paracelso

“Muitas vezes na história do pensamento humano uma convicção surgida como heresia tornou-se verdade aceita universalmente... A história da ciência é em parte a história de paradoxos que se transformam em lugares comuns e de heresias que se tornam ortodoxias...”

Enciclopédia Britânica, ed.1959, verbete “heresia”.

Os novos horizontes da Psicologia que se descortinam às portas do Terceiro Milênio são absolutamente impressionantes. A maior revolução científica deste final de ciclo é a do reconhecimento inexorável das dimensões cósmicas da alma humana. Quando nos familiarizamos com as contribuições da Psicologia Transpessoal e outras áreas afins, temos de nos render à constatação de que é muito surpreendente a convergência de resultados e da visão de psique que emerge entre pesquisadores com diferentes formações teóricas, muitas vezes investigando níveis e fenomenologia distintos, numa concordância jamais vista na Psicologia.

Uma avalanche de dados provenientes de vários domínios -tais como o trabalho com os estados não-ordinários de consciência, a investigação sistemática das experiências de quase-morte, as psicoterapias experienciais, a Terapia de Vidas Passadas, a Parapsicologia, e outros - nos fornece fartos subsídios para ampliarmos imensamente o já tão vasto continente da psique conhecida.

Surgiram novos mapas e possibilidades de exploração, impondo mudanças decisivas nos horizontes da psicoterapia e da medicina que estão ao alcance de todos, pesquisadores ou não. Com a ajuda destes mapas e instrumentos de expansão de consciência, pode-se explorar ainda mais a terra recém “descoberta”, cada qual extraindo daí as próprias conclusões.

Diz Jung: “Muita coisa só se torna inconsciente porque nossa concepção de mundo não lhe dá espaço, porque nossa educação e formação jamais lhe deram estímulo e, se alguma vez apareceu no consciente como eventual fantasia, foi reprimida. Os limites entre consciente e inconsciente são em grande parte determinados por nossa cosmovisão.”

Apesar de serem varridos sistematicamente para debaixo do tapete, as “novas” perspectivas hoje se impõem de maneira implacável à luz dos fatos que continuam se acumulando e corroboram o modelo. As contribuições das pesquisas compelem a uma redemarcação das fronteiras da Psicologia, com amplas conseqüências para a formação e para as práticas de psicólogos, terapeutas, pedagogos, médicos, antropólogos etc... As repercussões para as Ciências Humanas, como um todo, são imprevisíveis, mas, seguramente, mui profundas.

1. Uma das primeiras conclusões a que chegamos a partir destas pesquisas é a de que todos os indícios, provenientes de diferentes fontes, apontam para o fato de que, de algum modo, a vida continua após a morte;

2. Dentro desse panorama, encontramos inúmeras pesquisas com dados surpreendentes apenas explicáveis a partir da idéia de reencarnação. Temos ainda, especialmente, a Terapia de Vidas Passadas como uma das mais importantes contribuições atuais à prática da psicoterapia, decifrando sintomas ininteligíveis sem esse referencial, e tratando eficazmente um leque impressionante de problemas humanos onde as ferramentas convencionais simplesmente não funcionam.

O mais interessante é que muitos dos pioneiros psicoterapeutas que desenvolveram esse sistema de compreensão e de tratamento não eram crentes espiritualistas. Eles eram céticos e materialistas a princípio, chegando à hipótese de reencarnação através da prática da regressão, isto é, pelo caminho da experiência clínica. Esta hipótese explicativa é a que melhor se adequa aos fatos que observamos.

O grande pioneiro e sintetizador da Psicologia Transpessoal, Stanislav Grof, assim resume: “Experiências pessoais de vidas passadas que encontramos na meditação, psicoterapia experiencial, sessões psicodélicas, ou em “emergências espirituais” podem ser extremamente autênticas e convincentes. Elas podem ocasionar uma mudança drástica em nossa visão de mundo e abrir-nos ao conceito de reencarnação, não como uma crença, mas como uma realidade vivenciada. (...) As experiências de lembranças de vidas passadas tipicamente fornecem mais do que apenas uma nova compreensão destes problemas. Este processo muitas vezes pode resultar em alívio ou total desaparecimento de vários sintomas difíceis, tais como fobias, dores psicossomáticas, ou asma. Também pode ser instrumental na cura de relacionamentos problemáticos com outras pessoas. As experiências de vidas passadas podem assim contribuir de forma significativa à compreensão da psicopatologia e desempenhar um papel essencial para uma terapia bem-sucedida”.

Existem inúmeros casos nos consultórios de terapeutas brasileiros e de vários outros terapeutas de vidas passadas de diferentes lugares do mundo que atestam a eficácia desta hipótese, encontrando resultados surpreendentemente rápidos onde anos de terapias convencionais se mostraram ineficazes. Por vezes, a diferença é tão gritante que poderíamos nos perguntar: Quem é o charlatão neste caso? Aqueles profissionais que não se reciclam informando-se acerca das recentes pesquisas e métodos, atualizando-se para melhor servir ao cliente ou aqueles que corajosamente nadam contra a correnteza das “verdades” acadêmicas e das instituições retrógradas para buscar nas contracorrentes marginalizadas os subsídios para ajudar seus clientes?

As bases científicas da Terapia de Vidas Passadas provêem de diversas fontes cuja perspectiva é surpreendentemente consensual: a pesquisa e terapia de Vidas Passadas utilizando hipnose ou outras técnicas; o trabalho do Dr. Ian Stevenson sobre crianças que recordam suas vidas passadas1; as investigações acerca das experiências fora do corpo (Out-of-Body Experiences); a pesquisa do Dr. Hernani Guimarães Andrade propondo a hipótese da Memória Extra-Cerebral; a Tanatologia, enfocando as Experiências Próximas da Morte ou Experiências de Quase-Morte; a investigação dos estados não-ordinários de consciência através da meditação, da respiração holotrópica ou de substâncias psicoativas na Psicologia Transpessoal; o uso espiritual ou investigativo das Plantas Sagradas como expansoras de consciência; alguns achados da psicologia junguiana, incluindo as experiências e reflexões do próprio Jung acerca da vida após a morte; e muitas outras fontes mais.

A segunda conclusão, portanto, é a de que vivemos várias vidas e temos inúmeros outros personagens dentro de nós, com identidades muito diversas em relação ao nosso ego conhecido/cotidiano, que nos auxiliam a compreender melhor o outro, o diferente. O ego ampliado com esse conhecimento e integrando a experiência com os estados transpessoais de consciência, como os que encontramos, por exemplo, na Terapia de Vidas Passadas, desenvolve naturalmente compaixão e tolerância para com seu próximo, que ele identifica sóbria e serenamente como representando uma parte de si mesmo;

3. A terceira conclusão é a da existência, em outras dimensões da realidade, não só dos espíritos ou almas dos desencarnados, mas também de outras qualidades de seres inteligentes, capazes de entrar em comunicação e apresentar diferentes formas de interações conosco. Essa realidade está nos bastidores de muitas curas “para-normais”, curas xamânicas e de muitos outros fenômenos inexplicáveis dentro do antigo paradigma.

Lembraremos aqui de algumas reflexões do etnobotânico Terence McKenna acerca da questão das inteligências desencarnadas e das entidades não-humanas: “Seja qual for o seu status no mundo, sua persistência na experiência e no folclore humanos é notável. O fenômeno da sua existência não é algo inusitado nem estatisticamente raro. Em todos os tempos e em todos os lugares, com a possível exceção da Europa Ocidental nos últimos duzentos anos, o comércio social entre seres humanos e vários tipos de entidades desencarnadas, ou de inteligências não-humanas tem sido considerado perfeitamente verdadeiro.” Poderíamos até dizer que esses seres, de acordo com critérios que ainda não compreendemos bem, têm revelado, ao longo da história, para homens de todas as culturas, tecnologias sagradas e ferramentas eficazes de cura.

Como exemplos de metodologias mui eficazes que foram “canalizadas”, temos as religiões fundadas a partir de revelações, em todos os tempos e lugares, ou um dos mais eficientes métodos terapêuticos para alcoólatras e outros adictos, o dos Alcoólicos Anônimos, revelado a Bill Wilson, entre inúmeros outros exemplos de estruturas coletivas originando instituições feitas com propósitos específicos que são altamente funcionais.

No Brasil, vemos surgir, em período relativamente curto, os três troncos de trabalhos com o Santo Daime/Vegetal: a revelação de Mestre Irineu com o Santo Daime, a de Frei Daniel com a Barquinha e a de Mestre Gabriel com a União do Vegetal. O misterioso chá medicinal e enteogênico, preparado com Plantas Sagradas, fez surgir no Brasil estas três tecnologias novas e mui sofisticadas de cerimônias espirituais, capazes de resultados impressionantes em termos de cura psíquica e física. Bem como em termos de transformação humana, no sentido de maior ética e consciência ecológica, são verdadeiros remédios para a crise atual. São tão importantes seus impactos na área da expansão de consciência, que tais linhas de trabalhos se multiplicaram pelo território brasileiro e pelo mundo.

Temos ainda no Brasil grupos indígenas que também utilizam essa bebida de poder com diferentes tecnologias e rituais, mas com propósitos muito afins. Eles o utilizam denominando Yagé, Caapi, bem como outras Plantas Sagradas similares como, por exemplo, a Jurema, com os mesmos fins espirituais, terapêuticos e pragmáticos.

Falando ainda de tecnologias extremamente avançadas reveladas por seres de outras dimensões de realidade, temos o exemplo de maior impacto, o sonho de Descartes. É um dado pouco ventilado nos livros de história da ciência, o fato de que um dos fundadores do racionalismo moderno, René Descartes, como nos informa Terence MacKenna, “(...) foi colocado no caminho dos ideais da ciência moderna por um anjo que lhe apareceu em sonho e lhe disse que a conquista da natureza seria conseguida através da medida e do número”. É impressionante a tomada de consciência que daí podemos extrair. Continua ele: “Essa enunciação, que é efetivamente o grito de batalha da ciência moderna, passou primeiro pelos lábios de um anjo”.

Alguns desses seres demonstram estar em estados de consciência mais amplos e evoluídos que o nosso e parece que tentam nos ajudar a evoluir, a nos tornarmos servidores de nosso próximo, servidores da humanidade. Suas intervenções em nossa realidade material e psicológica (poltergeist e possessão) têm ocorrido regularmente. Ao que tudo indica, para nos auxiliar a amadurecer e despertar para as realidades dessas dimensões espirituais, onde se encontram as chaves da decifração do sentido da própria vida.

Jung, após sua experiência de quase-morte, formula as grandes questões da alma que vislumbra a vida encarnada a partir do além, concluindo em suas memórias: “(...) Enquanto me aproximava do templo, estava certo de chegar a um lugar iluminado e de aí encontrar o grupo de seres humanos aos quais na realidade pertenço. Então finalmente compreender-isso também era para mim uma certeza-em que relação histórica eu me alinhava, eu ou minha vida. Eu saberia o que houvera antes de mim, porque me tornara o que sou e para o que minha vida tenderia. Minha vida vivida me apareceu freqüentemente como uma história sem começo nem fim. Tinha o sentimento de ser uma perícope histórica, um fragmento ao qual faltasse o que o precede e o que se segue. Minha vida parecia ter sido cortada por uma tesoura numa longa corrente e na qual muitas perguntas tinham ficado sem resposta. Por que aconteceu isso? Por que trouxera comigo tais condições prévias? Que fizera eu dela? O que dela resultaria? Eu tinha certeza de que receberia uma resposta a todas essas perguntas, assim que penetrasse no templo da pedra. Aí compreenderia porque tudo fora assim e não de outra maneira. Eu me aproximaria de pessoas que saberiam responder à minha pergunta sobre o antes e o depois”.

Talvez somente nesse continente oculto da vida após a morte possamos encontrar as respostas para as decisivas e iniciáticas perguntas: De onde viemos? Quem somos nós e o que estamos fazendo aqui? Para onde vamos? Qual é o telos, a meta do desenvolvimento humano?

Nessas dimensões estão as chaves da ultimação do propósito da existência e, portanto, todos os processos que conduzem a esse despertar, que se estende por muitas vidas, são, em si, eventos necessários ao progresso humano e nada têm de patológicos, apesar de sua aparência pouco inteligível e mal adaptada em relação aos sistemas de referência cartesianos do velho paradigma. Nesse aspecto o conceito transdisciplinar de emergência espiritual configura o início de uma revolução na psicoterapia e na educação, nos trazendo também muitas sugestões úteis na área da prevenção de saúde, psíquica e física.
Mas, poderíamos dizer, essa visão é absolutamente arcaica, e os povos da antiguidade -muitas tradições espirituais vivas, antigas e novas, sensitivos da atualidade, e muitos outros-trabalham regularmente com tais dimensões e apresentam mapas eficazes e, em múltiplos aspectos, similares ou complementares em relação aos mapas desenvolvidos pela avançada Psicologia Transpessoal. Essa concordância não é surpreendente se considerarmos, de fato, que estamos lidando com fenômenos objetivos e não com delírios ou alucinações2.

Aí surge outra pergunta: como os antigos tinham mapas tão sofisticados acerca das percepções ampliadas e dos estados espirituais avançados do ser? De onde vem essa complexa tecnologia espiritual que demonstraram possuir povos de uma remota antiguidade? Os antigos egípcios, os indianos, e muitas outras culturas misteriosas tais como os povos pré-colombianos e outros ancestrais dos povos atuais ultrapassam-nos em ética e em consciência espiritual tendo muito a nos ensinar. Sua contribuição é cura em relação aos nossos tempos espiritualmente decaídos, apresentando uma tecnologia que, sendo voltada para o conforto material da vida, é seriamente alienante em relação à essencial e inexorável aventura da busca da iluminação das almas, nosso destino final3. Não apenas as construções megalíticas e enigmáticas ou os avançados conhecimentos astronômicos, mas, sobretudo, sua tecnologia psico-espiritual nos surpreende, levando-nos a levantar a suspeita de que as hipóteses de civilizações muito desenvolvidas em passado remoto na Terra não são simplesmente lendas, que a história humana entendida pela via da teoria sintética da evolução está incompleta e não explica todos os fatos com que nos deparamos. Temos de incorporar aí não só uma nova síntese incluindo todos os dados sobre o assunto, como também uma interpretação simbólica e histórica de muitos mitos presentes nas diversas culturas, trazendo outras dimensões, absolutamente fantásticas, desse drama cósmico da alma humana rumo ao Despertar.

Outra interpretação complementar, baseada nos resultados de minhas pesquisas na área da Psicologia da Religião e de uma Psicosofia que venho desenvolvendo há quase duas décadas, integra a concepção de civilizações altamente desenvolvidas no passado remoto da humanidade (configurando a dimensão da Tradição que é transmitida historicamente), com a idéia de Revelação, da experiência direta, gnóstica, como parte da Tradição. Os conhecimentos transmitidos, por vezes milenarmente, como também, as Revelações recebidas na atualidade, segundo os cabalistas, são dimensões igualmente essenciais da Tradição.

O termo Psicosofia vem de Psique=Alma e Sophia=Sabedoria. Propõe uma perspectiva mais equidistante entre a Ciência Sagrada e a ciência moderna. Sem deixar de ter compromisso com o Logos, isto é, as bases fornecidas pela ciência ocidental, moderna, a Psicosofia se ancora na Sabedoria. Seus fundamentos repousam no experienciar dos estados de consciência que nos habilitam a penetrar em outras dimensões do Real, interior e exterior, em contatos mais intensos com Deus, o Si-Mesmo, o Atman, o Cristo Cósmico, o Mestre Interior, o Curador Interior, buscando que Ele guie o processo.

Partindo da perspectiva guenoniana da Ciência Sagrada, a Psicosofia reúne, organiza, seleciona, e articula, de modo transdisciplinar os elementos para compor uma visão que procura a sabedoria e a inspiração espiritual no lidar com os dados da ciência convencional, busca ser mais holística e individuada. Utiliza, por vezes em ângulos diferentes dos usuais, não apenas os achados da Psicologia e da Antropologia acadêmicas, mas também de xamãs, sacerdotes, Iniciados e representantes legítimos das diversas Tradições Sagradas de todos os tempos e lugares.
Esse conhecimento gnóstico-intuitivo sobre a psique que busca, para além do Logos, Sophia, a Sabedoria, se baseia essencialmente nos ensinamentos eternos das Tradições Sagradas. Isso nos leva à conclusão de que todas as principais sofisticadas tecnologias psico-espirituais que tais Tradições possuem foram Revelações que vieram de dimensões acima da nossa, de um “plano superior” ou “supra-humano”, como propunha Guénon. São Seres que conhecem melhor e parecem dominar o conhecimento de um estado evolutivo superior ao que nos encontramos, encarnados neste plano, chamado “Vale de Lágrimas”. Tais seres podem nos impulsionar, eles têm nos ajudado na Liberação, Moksa, e na Iluminação, Satori, Nirvana.

Quando pensamos nessas outras dimensões como emersas do nível intrapsíquico, como provenientes do “supraconsciente”, conforme o definem Pietro Ubaldi, Assagioli e Guénon, entrando na “zona das antecipações evolutivas” encontramos as avançadíssimas tecnologias de uso terapêutico e espiritual das Plantas, metodologias de expansão de consciência e de contato com o Si-Mesmo (Fonte das Forças Auto-curativas da Psique), técnicas de manipulação de energias de planos e corpos mais sutis, tecnologias de interações, de contatos, trocas entre os humanos e os seres das dimensões mais sutis da natureza, e que evidenciam o alto nível e sofisticação de consciência alcançado pelos antigos.

Por exemplo, segundo Martin Lings, “(...) toda língua conhecida é uma forma rebaixada de alguma língua mais antiga; e, quanto mais voltamos no tempo, mais vigorosa e imponente se torna a língua. Ela se torna também mais complexa, e as línguas antigas mais conhecidas, aquelas inclusive mais antigas do que a própria História, são as mais sutis e as mais elaboradas em sua estrutura, conclamando a uma maior concentração e presença de espírito no orador do que qualquer uma das línguas mais tardias”.

Tratando da arte, Martin transcreve as palavras de Paolo Graziosi em Palaeolithic Art, onde percebemos o avanço da tecnologia arcaica: “Sem dúvida, o mais surpreendente aspecto do fenômeno artístico, quando ele nos surge pela primeira vez, é o alto grau de maturidade das expressões mais antigas. A súbita aparição de obras de arte estilisticamente desenvolvidas pega-nos completamente de surpresa, com uma erupção maravilhosa de valores estéticos... Mesmo os exemplos que pertencem sem dúvida à fase mais antiga... são trabalhos de uma maturidade artística surpreendente.”

Os ensinamentos de muitos destes indivíduos, considerados pelos terapeutas e cientistas da atualidade como “simples”, “incultos”, “selvagens” ou “primitivos”, se aplicam, de fato, aos grandes problemas com que nos defrontamos hoje.

É por tudo isto, e do amplo conjunto dos dados de que dispomos, que se torna óbvia a necessidade de uma reorientação diante de tais questões, pois tudo nos compele a assumir que nos encontramos no limiar de novas e mais amplas definições de “realidade”.

Conforme nos recorda Stan Grof, “a psicologia e a psiquiatria afirmaram que a crença na consciência depois da morte e a viagem póstuma da alma era produto do pensamento mágico antigo ou uma reação defensiva contra o medo da morte e a impermanência.” Hoje sabemos que as descrições das viagens pelo além, encontradas em livros sagrados de diferentes culturas no mundo, revelam realidades experimentadas durante estados de expansão de consciência bem como nas experiências de quase-morte. As jornadas dos iniciados nos Mistérios, dos xamãs, dos sacerdotes e místicos de múltiplas Tradições Sagradas não foram consideradas em sua dimensão real, foram vistas como “superstições primitivas, sugestões de grupo ou psicopatologia coletiva”. Os dados de que dispomos na atualidade, nos atestam implacavelmente que a esmagadora maioria dos cientistas do Ocidente avaliou de maneira completamente equivocada a complexidade, o alcance e o caráter revolucionário das perspectivas espirituais de todos os tempos e lugares. Há muito mais ciência nos livros sagrados do que a ciência moderna se acostumou a reconhecer.

Outros imensos sistemas de evidências do valor do que aqui se relata é o embasamento e o resgate das Medicinas Tradicionais, a revalorização das chamadas “terapias alternativas ou complementares“ de todo o mundo. Quando nos conscientizamos da grande e espontânea procura dos “alternativos” em nossos dias, realizamos que não se trata de modo algum de um fenômeno residual e marginal, mas sim, como constata François Laplantine renomado etnopsiquiatra, “(...) verdadeiramente moderno e em crescente desenvolvimento, tal como o atesta o sucesso dessas práticas nas mais avançadas sociedades industriais.”

Por exemplo, conforme o dado fornecido por ele, um em cada dois franceses recorre às “medicinas paralelas”. Enquanto as pesquisas cada vez mais as revalorizam, as Medicinas Tradicionais e outros procedimentos terapêuticos sistematicamente desprezados e não investigados têm aberto o caminho para uma visão holística e integrada das terapias.

Nos EUA, por exemplo, “o Congresso destinou dois milhões de dólares para que os institutos de saúde inaugurassem um departamento para o estudo das práticas médicas não-convencionais, esperando avaliar o que verdadeiramente funciona e separar os charlatães dos que curam. Semanalmente surgem novos relatórios em um campo que floresce depressa”.


CONCLUSÃO

Nossa primeira proposta pela paz e o diálogo entre as civilizações é, assim, a de uma revisão profunda nos currículos acadêmicos de formação terapêutica e pedagógica, inserindo espaço para a compreensão intelectual e vivencial desses novos horizontes de interpretação, capazes de alterar, de maneira radical, a relação dos homens com seus semelhantes e com o meio-ambiente, nossa Mãe Natureza.

Somos órfãos da Consciência Cósmica, o nosso estado original do Ser. Há uma estória sufi que descreve com precisão a situação do homem moderno: “Um homem herdou uma grande fortuna, mas, em pouco tempo, dilapidou seu patrimônio de uma tal maneira que não lhe restou um centavo sequer. Sem saber o que fazer, foi queixar-se a Nasrudin: “Mullá, estou numa situação terrível”, disse “Estou a ponto de ter que pedir esmolas para sobreviver. Que faço? Qual é o remédio? ” Nasrudin refletiu por um instante e respondeu: “Não se preocupe, suas aflições terminarão em breve.” O perdulário entusiasmou-se: “Como? Acaso voltarei a ser rico?” “Não, não.” Respondeu o Mullá. “você se acostumará a ser pobre!”

Herdeiro de incomensuráveis tesouros em sua Alma, tesouros que a Psicologia Transpessoal vem redescobrindo, e que as Tradições Sagradas já conhecem há muito, o homem moderno, que dilapidou e dilapida ainda, toda sua “fortuna”, isto é, suas energias, a saúde física, o equilíbrio psíquico, a dimensão social, o ecossistema etc., se acostumou a ser “pobre”, isto é, a não aproveitar todo o seu potencial de desenvolvimento bio-psico-sócio-espiritual. Como tomar posse de sua herança, como expandir a consciência, as possibilidades desse ego, “Filho Pródigo” do Si-Mesmo, do Eu Superior?

Existem várias tecnologias altamente sofisticadas e seguras, para se alcançar expansão de consciência, recuperando nossa riqueza perdida, sendo esta, seguramente, uma das práticas mais antigas e difundidas da humanidade, a de alterar o estado de consciência habitual. Encontramos também aí, uma decisiva chave para lidarmos de maneira mais eficaz com o problema do abuso e dependência de drogas e do alcoolismo. A repressão pura e simples tem um curto alcance. É preciso redirecionar a sede de iniciação, plenitude e expansão das pessoas para uma outra direção, mais construtiva e saudável.

Essa tecnologia já existe há muito tempo e precisamos resgatá-la para socorrer-nos em nossos sofridos dias. A chave e a saída estão nas dimensões espirituais da psique, as únicas capazes de saciar definitivamente esta sede. Conforme nos ensina o grande mestre Samael Aun Weor: “Pode-se ser religioso sem se pertencer a qualquer forma religiosa. Somente o homem religioso é verdadeiramente revolucionário. As religiões se constituem no fundamento vivo de toda sociedade civil e na inesgotável fonte de toda a sabedoria. Todas as religiões com seus deuses, semideuses, profetas, messias e santos são o produto da iluminação. As religiões devem se tornar científicas e a ciência deve se tornar profundamente religiosa.”

A investigação dos estados transpessoais se apresenta hoje como o mais promissor horizonte de pesquisas para uma revolução de consciência, tão imperiosa e decisiva para a humanidade atual. O reconhecimento de que já percorremos outros caminhos espirituais em nossas vidas passadas, isto é, que a alma é inter-religiosa, nos traz novos subsídios para o respeito recíproco e para o diálogo entre as religiões e as diferentes culturas/civilizações. A visão espiritual da vida nos traz a chave e o impulso que falta para um empenho coletivo e decisivo pela implantação de uma cultura de paz e intercâmbio, que deve caracterizar a nova civilização planetária do Terceiro Milênio.

Philippe Bandeira de Mello
Psicólogo Junguiano e Transpessoal, Conferencista Internacional, Pesquisador e Membro do Conselho Consultivo do Centro de Estudos Transdisciplinares de Consciência/Escola de Comunicação/UFRJ, ministra treinamento em Terapia de Vidas Passadas e é Fundador e Orientador da Arca da Montanha Azul.

1 Identificando lugares, pessoas e sendo reconhecidas por elas, apresentando, inclusive, cicatrizes onde o personagem da vida passada havia se ferido.

2 Temos aí também, toda a argumentação que nos ajuda a decifrar o importante enigma das Plantas Sagradas e seu extraordinário poder metagnômico ou metagnóstico: o Xamã, o Padrinho, o Mestre, servidores das Plantas Sagradas, não estão alucinando, e a maior prova disso são as curas e transformações anímicas efetivas, comprovadas, que ocorrem em seus trabalhos espirituais. Portanto, o uso do termo alucinógeno para referir-se a essas Plantas é completamente equivocado.

3 Esta tecnologia fragmentada e parcial, não teve, até agora, condições de nos guiar para um mundo melhor, ao contrário, põe o planeta e a humanidade em risco de autodestruição.