quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Para uma Transreligiosidade sem Fronteiras

                                                   CÍRCULO HOLÍSTICO ARCA DA MONTANHA AZUL:
                                                            Para uma Transreligiosidade sem fronteiras . 
                                                   (Uma nova tecnologia de Trabalho com Plantas Sagradas)
           
            “Um amor universal: não apenas é uma coisa psicologicamente possível; mais ainda: trata-se do único modo final e definitivo, pelo qual podemos amar.”

                            Teilhard de Chardin


            “Grande Mistério, ensina-me a honrar
   As leis do Espaço Sagrado,
   Os costumes e Tradições,
   De todos os credos e raças.
 Grande Mistério, ensina-me a desenvolver                                      Os talentos que possuo
    E a me comportar com respeito
    Na casa dos outros.
    Grande Mistério, ensina a criança que há em mim
     A aceitar com graça
     A parte do Mistério Sagrado
     Encontrado em todos os espaços.”
                                                           Jamie Sams   



        “A Fonte do Ser”
                        “Permite que a Fonte do Ser mantenha o contato contigo: ignora as impressões e as opiniões do teu eu ordinário. Se este eu te fosse de valor em tua busca, haveria encontrado a realização para ti. Porém tudo o que pode fazer é depender dos outros.”
                                              Amin Suhrawardi
           
             Um dos principais alimentos para a crise existencial/ perceptual/ ética/ religiosa, que acontece no mundo de hoje, decorre da Babel espiritual e intelectual em que se encontra o homem moderno. Se o objetivo universal é um mundo melhor por que não cingirmos uma cruzada a favor da Paz sem fronteiras? Imaginemos a força que teríamos se todos os religiosos do mundo nos déssemos as mãos em torno das questões que, em verdade, são universais e as mesmas para todos nós.
          Ora, se digo buscar a paz, mas, falo mal do caminho espiritual do meu próximo considerando-o equivocado, “primitivo”, “rival” ou “do demônio”, etc., na prática não estou trabalhando pela Paz e sim pela desunião, e fortaleço o fantasma da injustiça e desigualdade entre os Filhos de Deus. Assim se trabalha pela destruição e pela guerra.
        Ensina-nos o beneditino, doutor em Teologia, Anselm Grun, acerca da sabedoria dos padres do deserto: “(...) Sim, para os monges, o não-julgar era um critério para o caminho certo. Pois quem julga os outros ainda não aprendeu a conhecer-se realmente. Hoje em dia, existem muitos movimentos piedosos que vivem às custas dos outros. Eles se definem na medida que ficam rebaixando e ultrajando os outros. Quando alguém tem necessidade de amaldiçoar os homens por seguirem um outro caminho espiritual, isso será sempre um sinal de que seu caminho não é correto. Sua maldição revela o demônio no próprio coração, realidade, porém, que ele não admite. Nestas horas ele recalca e projeta este demônio sobre os outros”  Agindo assim acabamos alimentando a estreita visão de que “minha religião é a melhor e única”, não percebendo a óbvia realidade de que todos temos a aprender com todos, pois Deus revelou-Se a todos os povos e culturas de todos os tempos sob diferentes formas e linguagens. Conhecer outras maneiras de compreender e contatar Deus encontradas em religiões diversas da que abraçamos, pode nos auxiliar a enriquecer nossa concepção própria da religação, nos fornecendo chaves importantes para ampliar e aprofundar a vida espiritual dentro do caminho que escolhemos. Tenho atestado este fato em minhas pesquisas e experiência com estados não-ordinários de consciência.
         Conforme nos mostra o mestre Jalaludin Rumi “(...) prestar atenção apenas em nomes e formas exteriores, e não no espírito e na essência da religião, leva ao erro e à desilusão.”  Ele ilustra esta tese através da seguinte anedota:
            “Quatro pessoas, um persa, um árabe, um turco e um grego estavam viajando juntas e receberam um dinar de presente. O persa disse que com isso ia comprar “angur”, o àrabe disse que compraria “inab”, enquanto o turco e o grego eram a favor de comprar “usum” e “astafil” respectivamente. Ora, todas essas palavras significam a mesma coisa, a saber, “uvas”; mas, devido à ignorância que cada um tinha da língua dos demais, imaginaram que queriam comprar coisas diferentes, e assim levantou-se uma violenta discussão entre eles. Por fim, um sábio que conhecia todas as suas línguas apareceu e explicou a eles que todos desejavam a mesma coisa.”`
            No espantosamente atual livro atribuído à Lao-Tsu, o “Hua Hu Ching”, encontramos um diálogo sumamente esclarecedor acerca da questão do apego às formas exteriores das Religiões:
            “Venerável Mestre, quais são as características de alguém que amadureceu espiritualmente?”
            “Gentil príncipe, a pessoa espiritualmente amadurecida não segue uma religião dualista. A maioria das pessoas reverencia a descendência, ao passo que quem é maduro espiritualmente acolhe a Fonte e jamais se torna escravo de nenhum movimento social ou religioso. Ele considera o mundo como sua família e aceita todas as pessoas como seus irmãos e irmãs. Presta seu serviço a todos e não espera recompensa. Foi além de todos os obstáculos relativos à percepção e consegue enxergar através de todos os variados nomes que criam discriminação e hostilidade; entretanto, respeita a variedade natural e as diferenças, além de tratar todas as coisas como iguais entre si.”
       Jung nos recorda que apesar de as religiões se fundarem em bases eternas, arquetípicas, suas roupagens rendem tributo ao temporal e efêmero, necessitando portanto, de constante revivificação e de se refundirem em novas formas. Seguimos o dito de Jesus onde, o “Vinho Novo” da experiência viva e renovada, da revelação direta, necessita de “Novos Odres”, novas formulações, para permanecer vital e atual.
Paul Tilich nos recomenda que não deve cessar entre nós a luta por libertar as profundezas essenciais da religião das distorções que provém de suas particularidades: ”Portanto, ao dialogar com outras religiões, não podemos tentar sua conversão; pelo contrário, devemos tentar dirigir as outras religiões às suas próprias profundezas, até aquele ponto em que percebam que são testemunhas do Absoluto, não elas próprias o Absoluto.” Complementa Anna Lemkow: “Uma religião é tanto mais verdadeira quanto mais apontar além de si mesma para aquilo do qual é testemunha e manifestação parcial. No encontro com outras religiões, o objetivo desejável é a penetração mútua até aquele ponto no qual a visão do próprio sagrado nos libera da servidão a quaisquer  das manifestações particulares do sagrado.”
            Hermann Hesse descreve uma “Porta Estreita” que algumas almas tocadas pelo universalismo experienciaram em diversos tempos e lugares:
            “Evito desorientar os adeptos de uma Igreja ou comunidade religiosa em sua crença. Para a maioria das pessoas, é muito bom pertencer a uma Igreja e a uma crença. Aqueles que dela se separam enfrentam logo em seguida uma solidão e muitos passam novamente a suspirar pela comunidade anterior. Só no fim do caminho descobrirão que entraram numa nova comunidade, grande mas invisível, que abrange todos os povos e todas as religiões. Ficarão mais pobres de tudo que é dogmático e nacional, e mais ricos através da irmanação com os espíritos de todos os tempos e de todas as nações e línguas.”
            Este estado é magistralmente descrito pelo grande mestre Jalal ud-Din Rumi em um poema místico intitulado “O que não sou”:
            “Que devo fazer, ó muçulmanos,
            se já não me reconheço?

            Não sou cristão, nem judeu,
            nem mago, nem muçulmano.   
            Não sou do Oriente, nem do Ocidente,
            nem da terra, nem do mar.

Não venho das entranhas da natureza
            nem das estrelas girantes.
            Não sou da terra, nem da água
            nem do fogo, nem do ar.

            Do empíreo não sou,
            nem do pó deste tapete.
            Não sou da tona, nem do fundo,
            nem do antes, nem do depois.

            Nem da Índia, nem da China
            nem da Bulgária, nem de Saqsin;
            não sou do reino do Iraque,
            nem da terra de Khorassan.
           
            Nem deste mundo, nem do próximo,
            nem do céu, nem do purgatório.
            Meu lugar é o não-lugar,
            meu passo é o não-passo.

            Não sou corpo, não sou alma.
            A alma do Amado possui o que é meu.
            Deixei de lado a dualidade,
            Vejo os mundos num só.
                       
            Procuro o Um, conheço o Um,
            vejo o Um, invoco o Um.
            Ele é o Primeiro e o Último,
            o exterior e o interior.
            -Nada existe senão Ele.(...)”

            As pesquisas recentes provenientes de diversas fontes apontam para o dado inexorável de que a alma possui uma dimensão cósmica e é inexoravelmente ecumênica. Em várias vidas passamos por diversos caminhos espirituais e muitos de nós, quer ocidentais ou orientais, trazemos em nós formas religiosas que transbordam do meio religioso em que fomos criados: as religiões do Oriente, Budismo, Hinduísmo, Sufismo, o Xamanismo, Mistérios Egípcios, Gnose, cultos antigos e medievais, e outras “afinidades” espirituais que, usualmente, não sabemos de onde vem.
Ao experienciarmos, em um estado de consciência amplificada, por exemplo, meditação, trabalho xamânico, Terapia de Vidas Passadas, etc., percebemos que vivenciamos afinidades profundas com formas religiosas e culturais que não conhecíamos nesta vida e a sensação de familiaridade é total.
Cercear a alma dentro de apenas um invólucro religioso é repressivo e anti-natural. Encontramos em nosso abençoado Brasil, abundante de oportunidades de contacto com múltiplas e diferentes formas da vida religiosa, que coexistem e se entrecruzam para formar nossa consciência espiritual, pessoas que apresentam em uma cosmovisão religiosa, sua própria síntese entre os elementos plurais que absorveram no convívio com várias formas de religiosidade ao longo do seu processo existencial.
            A orientação da Arca, enquanto espaço não-doutrinário, não-diretivo, “Escola do Espírito Santo”, é pela experimentação, pela gnose ou conhecimento direto, vivencial, guiado pelo Eu- Superior, Si-Mesmo, Atman, Cristo interno, Mestre Interior, Guia, Anjo da Guarda, etc...
Conforme o sugerido pelo texto do budismo primitivo,Kalama-Sutta: “Não creiais na fé das tradições, quaisquer que sejam seus méritos e honrarias, através de muitas gerações e em muitos lugares; não creiais numa coisa só porque muitos crêem nela; não creiais sobre a fé dos sábios do passado; não creiais no que imaginais, pensando que um Deus vos inspirou. Não creiais em nada sobre a única autoridade de vossos mestres e sacerdotes. Após exame, crede no que vós mesmos experimentardes e reconhecerdes razoável, no que for conforme o vosso bem e ao bem alheio.”
            Um sábio discípulo, que era o príncipe do país pediu que Lao-Tsu os instruisse acerca de como “(...) deveriam os homens e mulheres inclinados a obter a consciência exata da sua verdadeira natureza acalmar a sua mente? Por que senda deveriam seguir a fim de harmonizar sua mente com todos os aspectos da vida?”
            “Respondeu o velho mestre: ”Ora, ora, alguém virtuoso e íntegro cuida de quantos praticam a virtude e o altruísmo. Alguém virtuoso e íntegro também orienta os que não praticam a virtude e o altruísmo, como disseste.
            “Escuta o que te digo. Qualquer pessoa boa inclinada a obter a consciência de toda a verdade deveria seguir o Caminho Universal para abrandar a mente e para harmoniza-la com todos os aspectos da vida.”
“(...) Todos os meus amigos e discípulos deveriam harmonizar a mente com toda a vida e não ter nenhum antagonismo com respeito a qualquer ser vivo, quer quer tenha nascido do ventre, do ovo, da umidade ou de qualquer outro tipo de transformação; quer seja ou não de pensar; quer tenha forma ou seja informe. Vós deveríeis acabar com toda discriminação individual e absorver todas as coisas na unidade harmoniosa”.
            “A virtude do ser muito desenvolvido acolhe todas as pessoas e coisas e dissipa as trevas que os isolam. Conquanto vidas sem conta sejam iluminadas, a que não tem consciência do todo na verdade não ajuda ninguém. Por que é assim? Gentil príncipe, se a pessoa ainda possui os conceitos mentais da divisão do eu e dos outros, do masculino e do feminino, da longevidade e da brevidade, da vida e da morte, e assim por diante, em sucessão ilimitada, a pessoa não possui a consciência que a tudo abarca.”
            Sendo assim ele sugere que “A pessoa não deveria limitar seus serviços fazendo distinção com base na cor, na nacionalidade, na família ou nos relacionamentos sociais, nas percepções sensoriais, ou em quaisquer outras condições relativas. Limitar os modos por que uma pessoa prestaria serviços aos demais para ser condizente com suas preferências pessoais é, em si, coisa prejudicial.”
            Num mundo globalizado e interdependente é essencial nos darmos as mãos, árabes e judeus, muçulmanos e cristãos, espíritas e evangélicos, espiritualistas e ateus materialistas, a solidariedade é, atualmente, um imperativo de convivência pacífica e da própria sobrevivência e salvação do planeta. Dessa maneira, nos deparamos com a situação inexorável descrita pelo psicólogo clínico, professor de psicologia e ex-pastor Dadid Elkins, que “nunca antes na história do mundo tantas pessoas tiveram tanto contato com tantas culturas diferentes da sua própria.”
Continuando a argumentação ele traz à luz a vivência inexorável de muitos de nós, que nos ensina algo decisivo e profundamente espiritual: “Como estamos expostos a essas realidades múltiplas, torna-se cada vez mais difícil manter nossa própria realidade como a única verdadeira. Somente os mais protegidos dentre nós são capazes de faze-lo. A maior parte de nós é forçada a reconhecer que existem outras realidades tão viáveis quanto a nossa e que o que temos por verdadeiro pode ser mais relativo do que gostaríamos de reconhecer.” 
Isso explica, de certo modo, algumas indecisões de muitos, que oscilam entre várias realidades representadas por diversas instituições religiosas que se contradizem mutuamente, frequentando a igreja cristã, o astrólogo, o centro espírita, a meditação, o yoga, etc., embora com conflitos, buscando realizar sua síntese pessoal em uma singular relação com o sagrado, com Deus.
Concordamos com o que David Elkins propõe neste ponto de nossa reflexão: “Esse colapso de nosso centralismo religioso e a abertura de nós mesmos a outras tradições é o primeiro passo na nossa evolução espiritual”. Perfeitamente sintonizado com a perspectiva espiritual canalizada que sempre tivemos e é a base da Arca da Montanha Azul, fazemos nossas suas palavras: “Se estamos aptos a avaliar nossa própria tradição religiosa com a consciência de que ela não detém o monopólio da verdade espiritual, então podemos respeitar outras tradições e abrir o nosso coração para o que elas têm a oferecer”.
            Existe um grande obstáculo a essa proposta que temos de trabalhar em nossas instituições e ensinamentos espirituais e, principalmente, em nossos corações: “Mas não é fácil nos abrirmos para outras perspectivas. Muitos de nós aprenderam que questionar a própria religião ou investigar as religiões dos outros é errado e até mesmo um ato de blasfêmia contra Deus e de traição à nossa tradição. Tabus religiosos como esses estão muitas vezes profundamente enraizados na psique humana, e é preciso muita coragem para transcendê-los. Mas, por difícil que possa parecer, vejo a relativização de nossa tradição e a abertura para outras perspectivas como o primeiro passo em direção à maturidade espiritual”.  Para além da percepção de que “(...) existem muitos meios de cultivar a alma que nada tem que ver com religião” nos defrontamos com a necessidade de assumirmos a responsabilidade pelo próprio desenvolvimento espiritual, usando o discernimento para filtrar o que está conforme nossa consciência na tarefa, em parte sempre solitária, de cultivo de nossa alma.
            Nesse percurso de universalização dos corações e mentes, a transformação das antigas crenças, embora sofrida, se faz indispensável, e, “(...) a incompreensão por parte da família e dos amigos pode ser quase devastadora”, como sugere David.
            Mas, temos igualmente a consciência de que, esta é a Redenção da Torre de Babel, conforme nos prega a filosofia da Arca, e de que trabalhar pela união no respeito e na diversidade de todas as Tradições espirituais nesse momento histórico, é a tarefa mais sábia e prudente que podemos realizar. Desse modo nos conforta David: “Mesmo assim, nosso nascimento para uma consciência espiritual mais ampla é, em última análise, compensador. Irrompemos numa nova realidade que transcende o confinamento estreito de nossa própria cultura e credo. Nossa identificação move-se, para além do nosso clã, em direção à espécie humana como um todo, quando percebemos que os anseios espirituais de nosso próprio coração são a canção universal de toda a humanidade. O universo torna-se o nosso templo, a terra, nosso altar, e a vida diária, o nosso pão sagrado. As tradições orais, a literatura da sabedoria e o acervo espiritual do mundo tornam-se nossas escrituras, e toda a humanidade, independentemente de nação, raça, cor ou credo, torna-se a nossa congregação”. Esta é a meta do preparo espiritual da Arca, uma inter-religiosidade na base, sem hegemonia de uma tradição sobre a outra, numa abordagem radicalmente plural.
            Vale a pena explicitarmos melhor o que definimos por pluralismo, a marca registrada do caminho espiritual do membro da Arca, uma proposta a ser inserida em todas as instituições religiosas. Assim o define o analista junguiano Andrew Samuels: “O pluralismo é uma atitude em relação ao conflito que tenta conciliar diferenças sem impor uma falsa solução para elas e sem perder de vista o valor próprio de cada uma destas posições. Enquanto ideologia, o pluralismo busca manter a unidade e a diversidade em equilíbrio - uma batalha tão antiga quanto a própria humanidade- em religião, filosofia e política, para suportar as tensões que se criam entre o uno e o múltiplo.” 
            Dentro dessas perspectivas, desembocamos em algumas posturas e conclusões que convergem perfeitamente com as colocações de frei Leonardo Boff: “O politeísmo não representa um estágio inferior da evolução religiosa rumo ao monoteísmo. Bem compreendido, não quer tanto afirmar a multiplicidade de divindades, mas as mil faces da mesma e única Divindade, do único Mistério de comunhão, vinculado à dinâmica aberta do mundo e do espírito. O monoteísmo, por sua vez, caminha pari passu com o surgimento de visões imperiais unitaristas que empobrecem a polivalência do sagrado.”
            Ao acabar o Dilúvio Noé viu brilhar um Arco-Íris no céu. Esta imagem é o símbolo e o selo de uma nova aliança entre Deus e os homens. Para algumas tribos de índios norte-americanos existe a idéia de que a Roda do Arco-Íris representa a promessa de paz entre todas as Nações e entre todo o Povo. A Raça do Arco-Íris vem reforçar a igualdade entre as Nações e se opõe à idéia de uma raça superior que controlaria ou conquistaria as outras raças.”
Fica aqui comprovado que essa visão unificadora não é algo isolado em uma dada cultura ou comunidade. Ela talvez represente a esperança de entrarmos em uma nova era de cooperação, prosperidade para todos e de paz definitiva. Para sua materialização é necessária a contribuição e responsabilidade de cada um de nós. Só assim inauguraremos, aqui e agora, um futuro melhor para toda a humanidade. Que Deus nos ajude nesta grandiosa tarefa!
Rio, 21 de março de 2003.
Philippe Bandeira de Mello.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Mestre Irineu e Seus Companheiros


A História do Brasil ensinada para nossas crianças e jovens, carentes de referências e exemplos de vidas construtivas, ao focalizar reis e rainhas, militares e políticos, personagens que nem sempre preenchem de maneira salutar esta lacuna, pouco ou nada faz referência aos mestres, curadores e cientistas, que dedicaram sua vida a ensinar, a tratar, a perscrutar novos caminhos para a expansão da consciência, para reeducação e terapia, e para o aprimoramento ético de nosso povo. Gostaria que, nas aulas de História do Brasil, se falasse sobre a história de grandes brasileiros, dentre eles, Mestre Irineu, Frei Daniel, Mestre Gabriel, Dra. Nise da Silveira, e muitos outros, com obras edificantes e de repercussão internacional, aportando exemplos de dedicação a ideais que são remédio para a situação de crise de valores que ora atravessa toda a humanidade.
Mestre Irineu foi um pilar espiritual cuja importância cresce com o passar do tempo e com o aumento de consciência da decisiva relevância de sua missão, religiosa e psicológica, para a transformação salutar da psique e da sociedade humanas que urge se realizar em nosso tempo moderno. Pioneiro em trajetória e campo incomuns, desbravador dos continentes interiores, arauto do resgate de uma decisiva visão ancestral da realidade invisível que nos cerca, comparo Mestre Irineu, nosso querido Padrinho, o grande patriarca da doutrina do Santo Daime, como alguém, qual Moisés, que foi destinado a guiar o povo, escravizado pelas formas exteriores e esvaziadas de religião, de uma vida espiritual sem a experiência direta com o sagrado, através dos desertos de um processo psico-espiritual misterioso rumo a um novo patamar de consciência, com o auxílio do Maná (o Santo Daime), da via da revelação divina, que conduz o buscador para a “Terra Prometida” de uma existência mais plena conduzida por Deus, pelos Seres de Luz ou pelo Eu Divino (o Si-Mesmo em termos psicológicos).
Mas, o que é o Santo Daime? O Santo Daime constitui o mais excelente remédio para a crise perceptual, ética e espiritual que atravessa nosso mundo. Conforme demonstro em meu livro, longe de ser uma droga, representa uma tecnologia ancestral, muito avançada, resgatada pelo nosso amado pioneiro, desbravador de caminhos novos.
Uma das revolucionárias propriedades misteriosas dessas especiais Plantas Sagradas que descrevemos em nossa pesquisa e que as distinguem das drogas, perigosas e alienantes, é a de educar, ensinar, de tal maneira que têm sido nomeadas de Plantas Mestras ou de Plantas Professoras. Dentre as suas várias propriedades misteriosas, a dimensão pedagógica da experiência por elas proporcionada é tão surpreendente quanto reconhecida por mestres e seguidores de diferentes linhas e escolas. Para terapeutas junguianos e transpessoais, é um dado familiar, inexorável e espantoso, o de nos darmos conta do quanto podemos aprender a partir de experiências com as dimensões mais profundas de nossa própria psique. Reconhecendo esta função de guiar que está presente na alma humana, Jung nos ensina que “(...) o inconsciente, às vezes é capaz de mostrar uma inteligência e intencionalidade superiores ao juízo possível no momento.” Sem dúvida, o Santo Daime / Vegetal atesta o fundamento sólido da posição que marca uma das mais importantes divergências entre Jung e Freud: a descoberta da função orientadora interior, da capacidade de guiar que o inconsciente possui, com amplas repercussões para a prática da psicoterapia, para o processo de desenvolvimento psicológico, a individuação, e para a compreensão de uma das mais importantes e surpreendentes propriedades destas “Plantas dos deuses” ou Enteógenos. Todos os mestres, padrinhos, xamãs e sacerdotes experientes são unânimes em afirmar que a Bebida Sagrada ensina. Uma pessoa pode tornar-se um mestre, padrinho ou xamã usando a Ayahuasca ou Santo Daime, mas, não utilizando uma droga.
A partir dessa propriedade, vemos surgir novas revelações, novas técnicas e rituais, maneiras de trabalhar com o Enteógeno, de uso muito antigo, a partir das próprias experiências com ele, como se ele estivesse nos ensinando caminhos novos, capítulos novos, instruções renovadas. Mestre Irineu, alma de ímpar envergadura interior, “aprendeu” com o Daime, com a Virgem da Conceição, entre inúmeras coisas, a sua Doutrina, os símbolos adotados, sua musicalidade, o Fardamento, os Hinos com a mensagem de um novo Caminho espiritual com poder para despertar o homem contemporâneo da inconsciência acerca do valor do cultivo da alma, da vida espiritual, da reverência para com a Mãe Natureza e seus Mistérios Sagrados e os principais elementos de seu Trabalho sagrado. Além da beleza musical e poética, da simplicidade profunda dos ensinamentos, precisamos considerar que esta via de “religação” se difundiu pelo mundo e conquistou muitos adeptos, promovendo intensas experiências místicas, inclusive em pessoas que não falam o português, aprendendo assim, diretamente do Santo Daime, algo tão significativo que tem sido capaz de transformar suas vidas. Para descobrir as riquezas do nosso Pai criador, Mestre Irineu, após a Viagem Sagrada (hino 89) de aprendizado com a Mãe Divina, por meio da “Voz” (e da Visão), que se anuncia em tom imperativo (conforme as descrições de Jung acerca da fenomenologia do Si-Mesmo), funda uma religião gnóstica moderna que, conforme sua percepção avançada no tempo e no espaço, teria o destino de “doutrinar o mundo inteiro”, tendo alcançado, até agora, eficaz penetração em vários países, expandindo-se e tendo seu valor reconhecido em muitos lugares fora do Brasil. Nenhuma droga alucinógena conhecida foi capaz de desenvolver em torno de si tantas excelentes e riquíssimas manifestações culturais, conquistando respeito e credibilidade diante de tantos membros produtivos de nossas sociedades, alguns com sólida formação científica. A Pedagogia dessas Plantas é ampla e supra-racional, auxiliando as pessoas a perceberem o fantástico, o “paranormal”, o mítico, o mágico, as sincronicidades que existem em suas vidas, contribuindo para uma visão mais holística, mais abrangente e integrada da realidade que nos cerca. Conforme constata o pesquisador e colega Ralph Metzner: “A utilização da ayahuasca por algumas igrejas brasileiras vem ganhando milhares de seguidores nas Américas do Sul e do Norte, e também na Europa, crescendo assim, vertiginosamente em número e influência. Encontramo-nos, portanto, diante de uma substância que tem contribuído profundamente para a modificação dos indivíduos, e que já começa a fomentar alguma coisa muito próxima de um amplo movimento de transformação cultural.” Assim, temos fundamentação abundante para o reconhecimento da Ayahuasca / Santo daime / Vegetal / Yagé, como patrimônio imaterial brasileiro.
Nessa Missão sagrada de resgate dos saberes ancestrais e de inovação cultural por meio deles, é inestimável o papel de Mestre Irineu, um grande brasileiro revolucionário da consciência, da religião e da nossa cultura!
Philippe Bandeira de Mello- 12/ 11 / 2010

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

26 Jan 2011 *Sacred Medicine Festival* - Alto Paraíso, Brasília

*Reproduzido do site oficial do Templo Mãe D'agua, Ayahuasca Dreams: http://www.yatra.yage.net/

“Sacred Medicine Festival”
A Gathering For World Peace
(26th / 19:00 Ritual with Philippe Bandeira – Arca da Montanha Azul (Mãe D’agua))

Alto Paraiso – Goias - Brasil
Un dos principais centros de Ayahuasca e Vida Alternativa

15 - 31 de Janeiro, 2011
Estamos muito felizes de apresentar nosso primeiro “Sacred Medicine Festival” (Festival de Medicina Sagrada) acontecendo no Templo “Mãe D’agua” e “Jardim de Juramidam”.
O Festival apresenta várias tradições de Ayahuasca e a "Native American Church" (Igreja Nativa Americana), muitos diferentes rituais, e a Arte Visionária Ayahuasqueira Peruana.

January 15th till 31st, 2011
We are proud to present our first “Sacred Medicine Festival” happening at the Temples “Mãe D’agua” and “Jardim de Juramidam”.
This Festival introduces a variety of traditions of Ayahuasca and the Native American Church, in several different rituals, and the Ayahuasca Visionary Art from Peru.


The many languages and belief systems expressed through the sacred medicines will enhance your spiritual search.
Many types of music will be played during this event, celebrating the divine.
We will also have a “Feitio” (the making of ayahuasca) for you to participate and see how this sacred medicine is made.
The “Feitio” will start with harvesting the plants in our ethno-botanical gardens, to prepare it for cooking.
The sacred drink will be served throughout the “Feitio”.
“Our Festival is a prayer for world peace and the evolution
of the collective consciousness”
On line booking closed
Further bookings please go to EcoNois, Alto Paraiso, 11:00AM to 17:00 PM,
from Jan. 14th and everyday during the festival
EcoNois is our Meeting Place
Rua Ari Ribeiro Valadão, the main road of Alto Paraiso next to Banco do Brasil. The check in, donations, sign of the term of responsibility, tickets and the transport to the temple will all be done at EcoNois. For last minute registration, food, sharings, hanging out, visionary Ayahuasca art, indigenous art, etc...
Meet us there!!!
Program:
15th / 19:00 Caboclo’s Ritual with Yatra (Mãe D’agua)
16th / 19:00 Ritual with Colombian Curandero Mao Tanka and Raja (Mãe D’agua)
17th / 19:00 Ritual with Bané – Caxinawá tribe (Mãe D’agua)
18th / 19:00 Cura Ritual with Yatra (Mãe D’agua)
19th / 19:00 Native American Cerimony with Kuauhtili Mexica (Mãe D’agua)
20th / 15:00 Harvest Ritual for the “Feitio” (Mãe D’agua)
20th / 20:00 Ritual with Colombian Curandero Mao Tanka and Raja (Mãe D’agua)
21st / 12:00 to 18:00 Ritual to open the “Feitio” (Jardim de Juramidam)
21st / 20:00 Ritual to open the “Feitio” (Jardim de Juramidam)
22nd / 19:00 Ritual with Darshan (Jardim de Juramidam)
23rd / 12:00 till 18:00 “Feitio” Ritual (Jardim de Juramidam)
23rd / 20:00 “Feitio” Ritual (Jardim de Juramidam)
24th / 19:00 Ritual with Bané – Caxinawá tribe (Mãe D’agua)
25th / 19:00 Ritual with Kogi Mamo elder Akindue from Colombia and Kathi (Mãe D’agua)
26th / 19:00 Ritual with Philippe Bandeira – Arca da Montanha Azul (Mãe D’agua)
27th / 19:00 Celebration Ritual with Yatra (Mãe D’agua)
28th / 19:00 Ritual with Darshan (Jardim de Juramidam)
29th / 19:00 Santo Daime Ritual – Cura with Neves and Maurilio (Mãe D’agua)
30th / 19:00 Ritual with Colombian Curandero Nando and Kathi (Mãe D’agua)
31st /19:00 Native American Ceremony with Kuauhtili Mexica (Mãe D’agua)
The program is flexible and can change.
Facilitators:
Yatra
Grandmother and Natural Healer
Founder of “Friends of the Forest” in Amsterdam”.
Leading rituals around the world since 1993. Implemented the first drug addiction treatment program with ayahuasca in Europe.
Founder of “Centro de Concientização dos Amigos da Floresta” and
Temple “Mãe D’agua” In Alto Paraiso.
Well known for her ayahuasca music.
Produced several CDs.
Team from the Temple “Mãe D’agua”
Includes professional musicians, experienced healers and helpers
working with Yatra for the last 16 years
Hernando Villa
Colombian Curandero.
Has worked with the Camsra, Kogis, Sionas, Kofanes and Emberas
indigenous groups, the ways of plant medicine, and ancient wisdom.
He offers his music in prayer circles,
with tribal elders, and in youth leadership projects.
His prayers are focused around the temascal, pipe ceremonies,
and medicinal purification.
Kathi
Dancer/Healer from Germany/South Africa
honors the Voice of the
Grandmother and supports the Prayer of the Woman.
She prays with the elements, and their purifying powers,
has spent time with elders from many tribes in Africa, the Lakota,
Navajo and Cherokee of North America and the
Camsra and Kogi of Colombia.
Akindue
Akindue is a Mamo elder from the Kogi Nation of northern Colombia. He carries ancient knowledge of South America. Akindue leads ceremonies with the sacred plant San Pedro/ Aguacoya with prayers and songs for the healing of mother earth’s waters.
Mao Tanka
Colombian Curandero.
Leading ceremonies for many years.
Disciple of the Putumayo’s elders and Amazonian tradition.
Well known for his vast knowledge,
offering rituals around the world.
Raja
German Musician.
Plays with Carioca for many years.
Leading rituals with Mao Tanka.
Together they’ve created a unique and powerful
combination of Amazonian tradition from Colombia
and the music Spirit of Carioca.
Bané
Native Caxinawá Indian
Leading rituals from the
Amazonian tradition
Disciple of the tribe’s Elders,
was chosen to continue
their tradition into the new generation of the tribe.
Darshan
Founder of the Templo
“Jardim de Juramidam” in Alto Paraiso
She has the “Casa de Feitio”, and prepares a potent “Ayahuasca
Brew” according to Amazonian tradition.
She will be leading the “Feitio” (the making of the ayahuasca)
during the Festival,
kindly sharing her knowledge with us all.
Neves - Santo Daime
Santo Daime is the most well known tradition of Ayahuasca in Brasil.
Founded by Mestre Irineu and followed by
Padrinho Sebastiao.
Neves is the daughter of Padrinho Sebastião, and will present
the Cura (healing) Ritual from her father.
Maurilio – Santo Daime
The main maker of ayahuasca
from the Santo Daime in the Acre Amazons.
With his wife, Neves, they direct the Community "5000" in
Rio Branco, founded by her father, Padrinho Sebastião.
Philippe Bandeira
Founded in 1989, the first Barquinha
Church outside Acre, in Rio de Janeiro.
In 1997, he founded and directs up to today,
the holistic circle “Arca da Montanha Azul” also in Rio,
an ecumenical space for investigation,
and interchange between the
Sacred Traditions, with the ritualistic use of ayahuasca.
Kuauhtli Mexica
A Sundancer and Mexica-Aztec dancer.
Leading Peyote Ceremonies for over 30 years, within the tradition
of the Native American Church with the
“Sacred Water Drum” and “Half Moon Altar”.
Ayahuasca Visionary Art from Peru
Pablo Amaringo, Anderson Debernardi and Felix P. Aguirre
The Temple “Mãe D’agua”
It is 1.8 KM up the hill from the Village Alto Paraiso.
There will be transport available from the village to the temple and back on the days of the rituals.
The transport will leave from the main street of Alto Paraiso,
Rua Ary Ribeiro Valadao, in front of "EcoNois", next to Banco do Barsil.
It will start 1:30 hour before the beginning of the ceremonies till 15 minutes before. it will be coming and going to pick up more people. It will cost R$8,00 to go to the Temple and R$12,00 to come back from the temple (in the middle of the night), per person.
The Temple “Jardim de Juramidam”
It is in the Village at a walking distance from the guesthouses.
What to bring:
Rain coat
Flash light
Sleeping bag to seat on
(The temple will provide only a straw mat on the floor).
Please take your shoes off, before entering the temple.
Dress in warm WHITE CLOTHES
(It can get cold)
Minimum Donation in Brazilian Reais:
R$ 75,00 per person per ritual
Space is limited.
Participation only with reservation and booking.
Alto Paraiso
We do not arrange accommodation for the Festival.
You can contact
They have a list of all guesthouses and hotels in Alto Paraiso,
and can help you with your accommodation according to your budget.
They can also arrange transport if you want to come
from Brasilia to Alto Paraiso by car.
It costs around R$ 300,00 one way, depending on the size of the car you need.
They can pick you up at the airport and bring
you straight to Alto Paraiso to the guest house of your choice.
You can come to Alto Paraiso by bus
leaving from Brasilia.
There are two bus stations in Brasilia.
You need to get a taxi from the airport to the bus station,
as there are no buses doing this service.
Here is the time for the buses leaving from
Brasilia, passing by Alto Paraiso:
Nova Rodoviaria (next to Park Shopping)
Company Real Expresso – leaves at 10:00 AM and 21:00 PM
Rodoviaria do Plano Piloto (next to Conjunto Nacional)
Company Santo Antonio – leaves at 07:00AM, 11:45 AM and 15:00 PM
Those buses only stop in Alto Paraiso on their way to their final destination,
so don’t miss the stop, or you will end somewhere else.
There are many restaurants to eat in the village.
Average price for a meal is around R$ 15,00.
“Oca Lila” is our favorite for vegetarian food and organics.
“Jato”, "jambalaia", and "Avalon" are a wonderful choices if you eat meat.
They are all very easy to find.
And of course there are other choices as well.
For Festival information contact:
On line booking closed
Further bookings please go to EcoNois, Alto Paraiso, 11:00 AM to 17:00 PM, from Jan. 14th and everyday during the Festival
EcoNois is our Meeting Place
Rua Ari Ribeiro Valadão, the main road of Alto Paraiso next to Banco do Brasil. The check in, donations, sign of the term of responsibility, tickets and the transport to the temple will all be done at EcoNois. For last minute registration, food, sharings, hanging out, visionary Ayahuasca art, indigenous art, etc...
Meet us there!!!
Looking forward to see you!