Quem somos


ARCA DA MONTANHA AZUL



História, objetivos, metodologia e características.


A Arca enquanto metodologia original de trabalho com Ayahuasca nasceu materialmente em 1997. Suas raízes espirituais, no entanto, surgiram em data bem anterior. Sua proposta e ideais, juntamente com os hinos recebidos, configurando uma identidade marcadamente diversa tanto do uso xamânico quanto das principais Escolas surgidas anteriormente, data de 15.7.1989.
Em 1988, ainda fardado no Santo Daime, Philippe Bandeira de Mello, em trabalho no Céu do Mapiá, com o Padrinho Sebastião, seu primeiro mestre na Ayahuasca, teve uma visão na qual havia uma corrente formada por espiritualistas e religiosos de diversas Tradições Sagradas, todos de mãos dadas, trabalhando pela cura da humanidade e do planeta. Tal corrente era coordenada por um Ser divino que deu o nome de Leão de Fogo.
Refletindo sobre o que acabara de ver, Philippe pensou que se todos nós nos déssemos as mãos, firmando-nos naquilo que nos une, muito mais forte que as diferenças e especificidades de crença, conseguiríamos mudar a situação de injustiças, opressão, guerras, competição e conflitos que encontramos hoje no mundo.
Posteriormente, em outro trabalho espiritual, o Ser Divino, Leão de Fogo, novamente se apresentou, trazendo um hino e instruções para a fundação da Arca. A partir de então tem sido Ele o coordenador e orientador dos trabalhos desta casa.
Entre 1989 e 1997 a Arca esteve em compasso de espera, enquanto Philippe fundava e dirigia a primeira filial da Barquinha (Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz) no Rio de Janeiro, tendo o Padrinho Manoel Hipólito de Araújo como seu segundo mestre na Ayahuasca.
No início do ano de 1997 começaram os trabalhos espirituais dentro da linha da Arca da Montanha Azul, que, atualmente conta com cerca de 40 membros que participam de forma constante, tendo uma média de 60 a 70 pessoas por ritual. Após 13 anos de existência, em meados de 2010 a Arca está concluindo o trâmite de sua legalização, através do estatuto social e requerimento de CNPJ.
A Arca tem por finalidade básica auxiliar o indivíduo a “religar-se” a Deus, dentro de sua própria concepção e linguagem. Visa fornecer um espaço de contato, de diálogo com seu Eu Superior, o Si-Mesmo, Atman, o Cristo Interno, o Mestre Interior, etc., seja qual for o nome que se dê a essa dimensão cósmica, imortal, espiritual da Alma humana, que pode nos ajudar no preparo espiritual, na educação e na cura. Busca fortalecer a relação com Deus, seus avatares e seus mensageiros: Jesus, Krishna, Buda, Lao-Tsé, o Anjo de Guarda, os Guias de Luz e os Animais de Poder, estreitando a relação com as Forças do Bem e os Seres de Luz, dentro da linguagem de cada pessoa e de acordo com seu próprio sistema de crença. Para isso encontramos representações das principais deidades e Tradições espirituais bem como ensinamentos, músicas, preces, meditações, ritos e leituras de diferentes linhas e caminhos, em convivência pacífica, percebendo o valor de todas.
Uma das propostas da Arca é desafiar o indivíduo a conviver, em estado de consciência expandida pela Ayahuasca, com outras formas religiosas, diferentes daquelas que conhece, visando quebrar os preconceitos de forma a promover a paz, porquanto levar a sério o outro, em particular sua diversidade, é um dos maiores desafios da convivência humana.
Em um mundo globalizado e interdependente é essencial darmo-nos as mãos, árabes, judeus, muçulmanos, budistas, cristãos, espíritas, evangélicos, espiritualistas e ateus materialistas. A solidariedade é, atualmente, um imperativo da convivência pacífica e da própria sobrevivência e salvação do planeta.
Nesse sentido, a Arca estabelece sistematicamente espaço para todas as Tradições e Mestres sérios, incentiva e promove o respeito e a convivência inter-religiosa desde a base, buscando a espiritualidade em um sentido amplo, pois bebemos conhecimento que vem da sabedoria milenar de diversas culturas, religiões e Tradições Sagradas de nosso mundo. Não existe hegemonia ou prevalência de uma Tradição sobre as outras.
A Arca tem como desafio e propósito a integração religiosa, “redimir a Torre de Babel”, a confusão de linguagens gerada pela arrogância humana por meio da “Escola do Espírito Santo”, o caminho da experiência direta com o Sagrado. Estamos imbuídos de uma dupla missão, de um lado proteger e salvar a extraordinária diversidade cultural, especialmente das culturas arcaicas e tradicionais que contém saberes milenarmente acumulados, sabedorias de vida e valores éticos, atrofiados entre nós e, de outro, alimentar uma cultura planetária comum a todos, trabalhando para a identidade e a consciência terrenas.
A Arca é uma Escola que tem como matéria principal o treinamento anti-sectário, e assim, um de nossos mais importantes ensinamentos está relacionado com ética inter e trans-religiosa: como amenizar os conflitos causados pelas diferenças, como agir de forma a propiciar a paz, diminuindo a distância entre os homens e os povos. Essas orientações são baseadas na experiência de prática transcultural que acumulamos ao longo de anos.
Outro objetivo é auxiliar o homem em seu desenvolvimento enquanto ser livre, perfectível e perquiridor das leis naturais e divinas. Combatendo qualquer forma de dependência, seja emocional, religiosa ou vivencial, a Arca se posiciona contra as drogas ou qualquer tipo de escravização humana, seja a televisiva, religiosa, química, psicológica, ou de outra procedência, procurando auxiliar seus freqüentadores a se emanciparem em relação aos poderes ilusórios deste mundo.
Também temos como objetivo criar um ambiente onde possamos curar o abuso espiritual, os traumas e limitações adquiridos no passado, através da repressão advinda do modelo hierárquico e centralizado das religiões antigas. Agimos de modo a ajudar os mais rígidos a descontrair e libertar seu poder de expressão, porém mantendo o clima sagrado, o respeito à coletividade e a atuação geradora de harmonia. De forma afetiva, em atmosfera de desapego, buscamos conduzir as pessoas à livre expressão, conscientizando-as simultaneamente da importância de não se desviarem da meta espiritual, o Amor universal unificador, renunciando com alegria a qualquer atitude que gere desunião. Sempre procuramos valorizar o lado positivo da disciplina e da austeridade, porém amando igualmente a espontaneidade, a alegria, a suavidade e a liberdade.
Uma das metas do trabalho é resgatar essa conexão direta que tínhamos no passado. Para isso, buscamos o Vinho vivo e novo da experiência direta e também novos odres ou formulações apropriadas às novas revelações. Por isso não temos programação estabelecida a priori; o Trabalho visa desenvolver em todos o poder de canalizar direta e singularmente, cada passo a ser dado no caminho espiritual. Assim como na vida não temos tudo sob controle, igualmente na via religiosa não podemos ter rigidez excessiva.
A metodologia central é entrar no Vazio, ficar receptivo às Vozes Superiores, Eu Divino e Seres Divinos. Renunciar ao saber, aos padrões passados de relação com o sagrado, ao piloto automático, a seguir somente o Livro, a autoridade dos seus sacerdotes, inclusive nós, a depender do que quer que seja, do Daime, Meditação, Ritos, cristais, objetos mágicos, etc.
Baseamo-nos na sabedoria do princípio chinês do Wu-Wei, isto é, o “não-agir”, que embora pareça inação significa ação harmoniosa. Não é o caminho dominador e impositivo do ego, mas uma ação da consciência em união com o Tao. Algumas vezes significa esperar pelo momento certo, outras vezes agir de forma espontânea e intuitiva.
Na Arca não há um guru, mestre ou padrinho, todos somos alunos e professores de todos, procurando auxiliar uns aos outros no contato com o Mestre Interior, o Cristo em nós, o Buda interno, o Atman, Centelha Divina que é nossa identidade mais profunda.
Outro método adotado é o do trabalho com a palavra, envolvendo estudo de textos, não apenas das diversas tradições sagradas, mas também nas fronteiras da ciência com a espiritualidade e conversa acerca de temas escolhidos livremente, estimulando, sobretudo o diálogo interreligioso, a indagação científica e a discussão aberta de fatos significativos do cotidiano.
Além das vertentes religiosas e espiritualistas, a Arca é constituída de sementes do trabalho da Dra. Nise da Silveira. Juntamente com a atmosfera de liberdade e solidariedade estimula-se a expressão livre, através da palavra, desenhos e a escrita. Muitos dos documentos, além de seu valor artístico, são depoimentos de experiências marcantes e transformadoras.
O ritual da Arca, sem uma programação preestabelecida, mas utilizando a intuição e canalização, integra elementos de diferentes Tradições Sagradas, tais como Santo Daime, Barquinha, União do Vegetal, Cristianismo, Budismo, Umbanda, Hinduísmo, Sufismo, Xamanismo, dentre outras.
Uma outra característica marcante dos rituais é o respeito à intuição de todos na sua condução, de forma que o trabalho é participativo.
Uma das mais importantes ferramentas de trabalho na Arca é a música, forma de expansão de consciência, conexão com o sagrado e ensinamento direto ao coração.
A Banda da Arca é a responsável pela parte musical da Arca da Montanha Azul. Suas apresentações revelam um caráter culturalmente único em sua musicalidade, trazendo canções de cura e devoção das diversas e citadas tradições espirituais, construindo músicas de cantoria, composições mântricas, batucadas xamânicas, celebrações à mãe natureza e reflexões sobre a vida. Usando uma linguagem universal de paz, amor e harmonia, a Banda da Arca cria um som atemporal, que nos inspira para a busca da iluminação e nos acorda para uma nova realidade.
O universo ayahuasqueiro é alvo de muitos preconceitos, existindo desconhecimento profundo a seu respeito. Dessa forma é essencial divulgar, com precisão e fidelidade, as suas contribuições únicas para a cultura no país e no mundo, na elevação do nível ético, espiritual e maior consciência filosófica e ecológica da população.