segunda-feira, 27 de setembro de 2010

São Francisco de Assis - II

São Francisco de Assis; o lado místico do irmão de Assis.
Por Francis Juliati

São Francisco sem duvida é o ser humano canonizado pela igreja católica mais popular que já existiu. Um romantismo um tanto quanto acentuado cerca a pessoa deste tão nobre homem. Quem já viu o filme Irmão Sol, Irmã Lua, pode ter certa noção disso. São Francisco é visto por muitos como um “riponga medieval” protetor dos animais, que falava com plantas e bichos e que igual a muitos jovens abandonou a casa dos pais em busca de um ideal.
Mas as pessoas que se interessam por espiritualidade devem se desprender dessa visão e buscar conhecer a grande vida mística do Santo de Assis. São Francisco tivera experiências místicas muito fortes e uma vida totalmente em comunhão com o Divino. Ele conseguiu viver em conformidade com os ensinamentos espirituais de várias tradições devido a vivencia diária do amor.
O Sri Isopanisad diz:

Yas tu sarvani bhutany
Atmany evanupasyati
Sarva-bhutesu catmanam
Tato na vijugupsate

“Aquele que vê que tudo está relacionado com o Senhor Supremo, que vê que todas as entidades vivas são suas partes integrantes, e que vê que o Senhor Supremo está dentro de tudo, não odeia nada nem ninguém.”
Sri Isopanisad Mantra Seis.

São Francisco tinha essa visão, por isso, era todo amor para com todos os seres vivos. As pessoas visam muito o lado filantrópico de São Francisco, mas, se esquecem que tudo isso era fruto de uma vida mística no sentido mais profundo da palavra. Ele era um homem totalmente “intoxicado” por Deus, longos eram seus períodos de êxtase em contemplação ao Divino dentro de matas e cavernas. E isso resultava em uma explosão de amor por todos os seres vivos, ele não via a cor, credo, classe social somente via Deus “O Amado” em todos.
Nós que somos admiradores da vida de São Francisco, não podemos esquecer de em qual rocha ela foi talhada.
A vida mística de São Francisco de Assis é desconhecida para maioria de seus admiradores. Talvez possa até ser um tanto quanto desinteressante, para os que estão acostumados com os quadros que retratam um Francisco dançando em meio aos passarinhos.
A Igreja diz que ele foi o homem que mais se assemelhou ao Cristo, e ele não nasceu assim. Pensem naqueles jovens boêmios que viram noites e mais noites na balada, assim era Francesco di Bernadone.
E para nascer o mundialmente conhecido Francisco de Assis o outro falso teve que morrer. São Francisco teve que passar por processos muito difíceis, para quebrantar seu ego, teve que sofrer muitos baques para perceber a efemeridade das coisas deste mundo, enfrentar seus maiores questionamentos, a solidão, a incompreensão. Ele passou por uma intensa jornada de autoconhecimento para enfim conhecer o Amado de sua alma.
São Francisco teve decisão, manteve-se firme, entrou em uma estrada sinuosa, mas seguiu firme, pois queria saber o que havia no final dessa estrada.  
Ele viveu a espiritualidade do amor esponsal, aonde a alma se identifica como esposa do Cristo e é desposada no patíbulo da Cruz. A esposa não é senão um só corpo com o esposo e compartilha todas as coisas com ele. Então uma alma esposada do Cristo vive como Ele, trilha seus caminhos e cumpre a mesma missão. São Francisco recebeu em seu corpo as marcas da crucifixão de Cristo, como sinais de sua união mística com o Divino. Ele foi estigmatizado após uma noite escura, enquanto fazia sua quaresma em honra a São Miguel Arcanjo no alto do monte Alverne, suas mãos, pés e seu lado foram perfurados pelos raios de um Serafim flamejante.
O santo de Assis assumiu o ideal do Cristo para sua vida e manteve-se firme até o fim, tendo o amor como sua lei áurea.
Os escritos de seus contemporâneos retratam muitos acontecimentos místicos que por sua entrega ocorreram. Certa vez, foi revelado a um de seus companheiros que havia um trono muito esplendoroso reservado a São Francisco no mundo celestial, por isso, os franciscanos o chamam de Pai Seráfico. Nos estudos sobre os anjos explica-se que os Serafins são os seres da mais alta hierarquia angélica, eles estão todo o tempo diante da face de Deus.
Assim como Avalokitesvara, boddhisattva da compaixão, São Francisco assiste as esferas de sofrimento, ou o purgatório na tradição católica, com o auxilio da Virgem Maria. Do mesmo modo Avalokitesvara possui o auxilio de Tara. 
O celebre episódio no qual São Francisco convida os pássaros para cantarem as glórias de Deus é muito semelhante ao que ocorre com Sri Caitanya Mahaprabhu, uma das encarnações de Krishna, quando este convida todos os animais da floresta para cantarem os Santos Nomes.
Como podemos ver São Francisco é um ser que ultrapassa qualquer restrição doutrinal e que perfeitamente pode ser aceito por qualquer tradição religiosa, por que se assemelhou totalmente com o Cristo em sua origem.

Então se temos o desejo de um mundo melhor, busquemos o exemplo de São Francisco e sejamos decididos. Busquemos o autoconhecimento, abandonemos o que tiver que ser abandonado, amemos uns aos outros e nos entreguemos à transformação.

“Francisco o mundo tem saudades de Ti”
Papa João Paulo II

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